quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Colóquio: Arquivos do Silêncio: Alianças Secretas da Guerra Colonial

Arquivos do Silêncio: Alianças Secretas da Guerra Colonial

Arquivos do Silêncio: Alianças Secretas da Guerra Colonial

29 de Novembro de 2011, 10h00, Sala 1, CES-Coimbra

Enquadramento:

Assinalam-se este ano os 50 anos sobre o início da Guerra Colonial portuguesa. O tema da Guerra Colonial tem vindo a conhecer novas revelações suscitando debates sobre o sentido desta guerra e das lutas nacionalistas que conduziram a processos de independências em meados dos anos 70. Questionar o colonial implica o levantar de inúmeras questões, quer nos espaços outrora metropolitanos imperiais, quer nos vários contextos colonizados. Esta relação obriga a repensar o tempo da história e a própria História. A luta pela independência de Angola, da Guiné e de Moçambique esteve intimamente ligada a outros processos geopolíticos, a apoios do continente africano e à persistência do fascismo em Portugal. Porém muito permanece por dizer sobre a Guerra Colonial e suas implicações geoestratégicas no contexto da guerra-fria.

O ritmo crescente das polémicas associadas a este conflito opõe-se todavia ao ritmo lento da constituição de saberes académicos. Este colóquio procura cruzar olhares e perspectivas sobre a última etapa da história colonial de Portugal, abrindo portas para uma análise mais profunda dos vários sujeitos e narrativas que este violento processo encerrou, integrando oradores com diferentes percursos. Procura-se, igualmente, aprofundar os conhecimentos sobre os contornos e implicações do Exercício Alcora, uma aliança nunca publicamente reconhecida, que Portugal estabeleceu com a África do Sul e a Rodésia em 1970 para apoiar a sua luta contra os movimentos nacionalistas na Guerra Colonial. Neste sentido a aliança estabelecida pelo Exercício Alcora oferece elementos importantes para confrontar visões já estabelecidas sobre a Guerra Colonial e para uma melhor compreensão das suas consequências.

ENTRADA LIVRE, ATÉ O LIMITE DOS LUGARES DISPONÍVEIS, COM INSCRIÇÃO OBRIGATÓRIA.



quarta-feira, 8 de junho de 2011

Apresentação IGNARA - Os Filhos da Guerra Colonial: pós-memória e representações


O Projecto IGNARA irá participar no Colóquio/Debate Os Filhos da Guerra Colonial: pós-memória e representações, no dia 14 de Junho de 2011, no Auditório do CIUL; CES-Lisboa (Fórum Picoas-Plaza), apresentando a peça documental IGNARA#GUERRA COLONIAL - Fazer o trabalho de casa e no dia 15 de Junho estando presente na mesa redonda e debate. Serão dois dias de programa que culminarão com o lançamento da Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial (Afrontamento, 2011).

Será uma boa oportunidade para rever ou assistir pela primeira vez ao nosso projecto.
O IGNARA foi apresentado durante o ano 2008, tendo estreado a 18 de Abril na ADFA. Após breve reposição no CES de Coimbra no ano de 2009, no âmbito da Conferência Internacional: Poesia da Guerra Colonial: uma ontologia do 'eu' estilhaçado, voltamos agora a colaborar com o Centro de Estudos Sociais apresentando, novamente, o "Fazer o Trabalho de Casa", que correspondeu à primeira fase do nosso IGNARA#GUERRA COLONIAL.

Regressamos assim às raízes deste projecto, após já termos passado pelo Lado Africano, Conclusões e ainda pelo espectáculo Dor Fantasma que deu voz aos textos do ex-combatente Manuel Bastos.

Esperamos ver-vos por lá.
A apresentação será seguida de debate, conforme tradição do projecto.

Direcção, Produção, Dramaturgia e Interpretação de Filipe Araújo, Paulo Campos dos Reis e Susana C. Gaspar (actores e filhos de ex-combatentes.)

Programa: http://www.ces.uc.pt/projectos/filhosdaguerracolonial/media/ColoquioJunho_Progr.pdf



(Fotografias de Rute Lizardo, 2009 - CES de Coimbra)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Memórias Literárias da Guerra Colonial (4º ciclo de conferências)

Quem Vai à Guerra: Carta de Isilda Alves

Uma comovente carta em reposta ao documentário "Quem vai à Guerra"...

A ler aqui: Quem Vai à Guerra: Carta de Isilda Alves

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Documentário "Quem vai à Guerra"

Marta Pessoa: “A Guerra Colonial ainda anda aí

“Quem Vai à Guerra” é o novo documentário da realizadora Marta Pessoa e trata um lado “invisível” da Guerra Colonial, o das mulheres que, de alguma forma, participaram no conflito. Depois da rodagem, Marta Pessoa assegura: a guerra “ainda anda aí”.

Após ter filmado a "prisão" dos idosos lisboetas em “Lisboa Domiciliária”, a cineasta virou-se para as mulheres da Guerra Colonial…

As que ficaram à espera dos maridos ou dos namorados, as que os acompanharam, as enfermeiras pára-quedistas, as que ficaram viúvas. Era o lado delas que Marta queria recordar e era o balanço das suas vidas que queria fazer hoje, precisamente no ano em que se assinalam cinco décadas desde do início da batalha.

“Muita coisa ainda estava para ser resolvida, discutida, mostrada”, explicou a realizadora, que depois da sua experiência na rodagem do filme diz, sem qualquer dúvida, que “a guerra ainda não acabou, a Guerra Colonial ainda anda aí. Não se fez o luto, não se fez a catarse”.

O filme está neste momento na mesa de montagem depois de uma rodagem dura e demorada que foi ao encontro de cerca de 20 mulheres, o “número mínimo», diz a realizadora, já que “para ser justa seriam milhares”.

Para Marta, “Quem Vai à Guerra” retoma o tema da “invisibilidade” para que “Lisboa Domiciliária” já olhava. Depois deste, a realizadora já tem planos para um filme que complete a sua trilogia neste tema. Embora não levante demasiado a cortina, assegura: “já anda aí outro [documentário] com pessoas que não são muito visíveis”. 


Quem Vai à Guerra
Who Goes To War
Marta Pessoa
Exibições: 13 Maio, 21:30, Culturgest, Grande Auditório
Secções: Sessão Especial
Documentário, Portugal 2011, 130', Documentário

sexta-feira, 8 de abril de 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

Colóquio: Stress de Guerra - A Ferida Encoberta


«A APOIAR vai realizar no ano de 2011, na cidade de Lisboa, seis encontros: Santiago Alquimista, Chapitô, Braço de Prata, Teatro da Luz, Teatro a Barraca e Teatro São Luiz.

Objectivo : Divulgar a APOIAR e o Stress de Guerra.
Faz parte da Rede Nacional de Apoio. Disponibiliza apoio médico - Clínica Geral e Psiquiatria - Psicológico, Social e Jurídico a ex-combatentes e familiares.

Pretende-se alertar as Autarquias, Centros de Saúde, Forças de Segurança, Bombeiros, Universidades, Clubes de Bairro e demais representantes da cidade de Lisboa para as dificuldades relacionadas com a doença Stress de Guerra -PPST- que afecta ex-combatentes e seus familiares.

O próximo colóquio realiza-se no dia 7 de Abril 2011, pelas 18 horas no Santiago Alquimista.»

terça-feira, 22 de março de 2011

Os filhos dos ex-combatentes também têm memórias da guerra



Artigo publicado no caderno P2 do  jornal Público a 21 de Março de 2011, baseado no projecto de investigação desenvolvido pelo CES "Os filhos da guerra colonial: pós- memória e representações", coordenado por Margarida Calafate Ribeiro.

Artigo integral "filhos dos ex-combatentes..."

Fonte: Sala de Imprensa do CES Coimbra



segunda-feira, 21 de março de 2011

A ler: "Os filhos dos ex-combatentes também têm memórias da guerra"

Hoje, no Jornal Público, no suplemento P2:

"Os filhos dos ex-combatentes também têm memórias da guerra"

Muitas famílias portuguesas têm baús de guerra. Lá dentro há albúns de fotografias, cartas, estatuetas africanas e medalhas. Foi através destes objectos que os filhos dos ex-combatentes ouviram falar sobre a guerra colonial, pelo menos a parte das histórias que os pais lhes quiseram contar. Alguns, como Susana, quando cresceram ganharam curiosidade e perguntaram: "Pai, mataste alguém?" Outros, como Alexandra, tiveram medo da resposta e calaram-se.
Por Catarina Gomes (texto) e Miguel Manso (fotografias)

Uma reportagem que vale a pena ler. Um testemunho meu e de mais três "filhos da guerra", bem como da investigadora Margarida Calafate Ribeiro e da própria jornalista. Pequena menção ao Projecto IGNARA, que está longe de estar terminado...

O artigo completo estará neste blogue brevemente.

quinta-feira, 17 de março de 2011

opinião sobre o discurso do Cavaco Silva


«Cavaco insulta toda uma geração e ataca a democracia pós 25 de Abril, que se fez em grande medida para terminar a guerra colonial e promover a descolonização. Atrevo-me a dizê-lo em nome de um tio que se suicidou na sequência da experiência de guerra, de outro que reprimiu as memórias sabe-se lá a que custo, e até mesmo da antecipação negativa que sentia em adolescente, com o medo do que aí vinha e os zunzuns sobre a necessidade de fuga do meu irmão mais velho para o exterior. Os rapazes e os homens dos anos sessenta e setenta portugueses viviam prisioneiros ou do horror ou da antecipação do mesmo.»

Opinião de Miguel Vale de Almeida
Retirado do blogue: http://blog.miguelvaledealmeida.net/?p=1595

a vergonha e a ignorância

título do artigo: Cavaco pede a jovens para se empenharem em "missões e causas essenciais" para o futuro de Portugal 

O Presidente da República instou hoje os jovens a empenharem-se em “missões e causas essenciais ao futuro do país” com a mesma coragem e determinação com que fizeram os militares que participaram há 50 anos na guerra em África.


Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar”, afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva.

Pois, acrescentou, enquanto portugueses, não haverá “causa maior” do que dedicar o esforço e a iniciativa “ao serviço da nação e dos combates que é necessário continuar a vencer, para promover um futuro mais justo, mais seguro e mais próspero”.

“Juntos continuaremos a afirmar Portugal”, disse Cavaco Silva, numa intervenção na cerimónia de homenagem aos combatentes, por ocasião do 50º aniversário do início da guerra em África, que decorreu no Forte do Bom Sucesso, em Lisboa.

Grande parte do discurso do Presidente da República, que é também o Comandante Supremo das Forças Armadas, foi dedicada a homenagear àqueles que estiveram envolvidos durante quase 14 anos na guerra do Ultramar, nomeadamente os cerca de nove mil portugueses que aí morreram.

“Para lá da memória, impõe-se o reconhecimento de todos os que, pela sua acção na defesa de Portugal, sofreram no corpo e na alma o preço do dever cumprido. São merecedores do nosso profundo respeito”, sublinhou, saudando também “com especial apreço” os militares de etnia africana que de “forma valorosa” lutaram ao lado dos portugueses.

Por isso, frisou, a cerimónia agora realizada não é de uma homenagem a “uma época, um regime ou a uma guerra”, mas simplesmente “uma homenagem da pátria àqueles que se encontram entre os seus melhores servidores”.

Reconhecendo que os soldados portugueses foram em África “soldados de excepção”, o Presidente da República destacou ainda a forma como venceram depois o desafio de refazer as suas vidas quando regressaram a Portugal, “começando tudo de novo, fazendo apelo ao espírito empreendedor e à capacidade de lutar”.

Cavaco Silva deixou ainda uma nota sobre a forma como se conseguiu abrir caminho para uma “cooperação fraterna e frutuosa” com os “países irmãos” africanos e sobre a “mais valia” da experiência de quem combateu em África e que quem criou condições para que Portugal seja um país “democrático, mais livre, mais solidário e mais aberto ao mundo”.

“O país será mais bem defendido se contar com a mais-valia da vossa experiência e da vossa participação activa, como exemplo e fonte de motivação para os mais jovens que, tendo crescido num ambiente de maior conforto e de paz, enfrentam o futuro num mundo incerto, onde as crises e o conflito não deixam de ser uma constante”, sustentou.


Petição

Os ex-combatentes solicitam ao Estado Português o reconhecimento cabal dos seus serviços e sacrifícios

quarta-feira, 16 de março de 2011

Angola 1961: o terror maciço e cru

15.03.2011
no Jornal Público online
Por João Manuel Rocha

 Os massacres que marcaram o início da guerra em Angola começaram há 50 anos. Havia indícios de que se preparava um levantamento, mas ninguém esperava tamanha violência. Os relatos de uma sublevação de cariz tribal dão conta de barbaridades indescritíveis. A revolta bacongo não poupa negros de outras origens. Os mortos são aos milhares, centenas deles brancos. O "15 de Março" prolonga-se até Outubro, já depois do "rapidamente e em força" proclamado por Salazar.

Só em Setembro, seis meses depois, José Rocha Dinis conseguiu ir a S. José do Encoje, Nova Caipemba, a uns cem quilómetros de Carmona, no Norte de Angola. O que ele e 15 a 20 voluntários viram foram esqueletos que sobravam da decomposição de cadáveres acelerada pelo calor e humidade. Certeza de quem era quem, só a teve sobre um capataz e a mulher: os restos mortais ainda estavam sobre o colchão apodrecido no chão da casa em que dormiam.

Na fazenda do distrito do Uíge estavam por enterrar mais de meia centena de trabalhadores - negros, mestiços e dois brancos, homens, mulheres e crianças. Meio século depois, José, hoje com 89 anos, tem bem presente essa viagem de reconhecimento a uma boa dúzia de propriedades da região feita a partir de Carmona, com voluntários idos de Luanda. Mas não quer falar de tudo o que viveu naquele ano em que a violência bárbara irrompeu no Norte de Angola, com incidência muito forte na zona dos Dembos. "Vimos ossadas em todas as fazendas", diz apenas.

Os ataques dos meses anteriores, a insegurança, a falta de homens armados para uma expedição, a incerteza sobre o que iriam encontrar e os maus acessos tinham deixado aquela e outras regiões fora do controlo das autoridades coloniais nos seis meses passados sobre o 15 de Março de 1961. Naquele dia, há exactamente 50 anos, ao alvorecer, sob a bandeira da União das Populações de Angola (UPA), a violência irrompeu de modo bárbaro. "Mata! Mata! UPA! UPA!", ecoou no Norte de Angola. O número de mortos está longe de ser consensual, mas as estimativas mais referidas apontam para cerca de 800 brancos, em muitos casos gente pobre e humilde, e milhares de trabalhadores africanos recrutados noutras regiões da colónia.

Munidos de "catanas e armas de fogo rudimentares", revoltosos "assaltam povoações e fazendas", em regiões de acesso difícil. Sto. António do Zaire, S. Salvador do Congo e Maquela do Zombo, próximo da fronteira com o ex-Congo belga, mas também Ambrizete, Negaje, Mucaba, Sanza-Pombo são alvo de ataques. "Toda a baixa do Cassange está em alvoroço" e os assaltantes estão às portas de Carmona. "São claros para as autoridades os propósitos de implantar o terror", escreveuFranco Nogueira, o diplomata que, em Maio seguinte, se tornaria ministro dos Negócios Estrangeiros.

"Em menos de 48 horas, pelos distritos do Zaire e do Uíge é a devastação maldita. Plantações e casas solitárias são saqueadas e incendiadas; aldeias são arrasadas; é posto cerco a vilas e pequenas povoações, cortando-se-lhes os abastecimentos; vias e meios de comunicação ficam destruídos", diz o relato de Franco Nogueira no livro Salazar volume V - A Resistência (ed. Civilização).

"Não se faz distinção de etnias, nem de sexo, nem de idades tão-pouco. É o terror, maciço e cru", refere Franco Nogueira na sua descrição, considerada "uma boa síntese" dos acontecimentos por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, autores do recém-editado Angola 61: Guerra Colonial, Causas e Consequências, o 4 de Fevereiro e o 15 de Março (Texto Editora). "Como nos tempos remotos das grandes barbáries, são assassinados homens, mulheres, velhos e crianças, autoridades administrativas, agentes da ordem, brancos, negros e mestiços; ou fuzilados; ou queimados dentro de casas e cubatas: ou esquartejados, e degolados; ou serrados vivos", escreveu o embaixador.

Os relatos do horror abundam. "Ao longo do caminho vimos enorme morticínio de pessoas brancas e pretas, sem braços, sem pernas, sem olhos", contou a angolana Ana Inglês, filha de um pastor protestante e depois presa política, a Dalila Mateus, investigadora do Instituro Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE), no livro Memórias do Colonialismo e da Guerra(ed. Asa). Os ataques, o medo e a insegurança imperam numa área equivalente à de Portugal Continental.

"Nas povoações", escreveram os autores deAngola 61, os atacantes "entravam mal as casas comerciais abriam as suas portas, atacando homens, mulheres e crianças com catanas, que traziam escondidas. E nas fazendas, faziam-no durante a formatura habitual da manhã, assassinando" proprietários e outros brancos, para além de nativos que lhes eram fiéis. "Estávamos irritados com tanto tempo de opressão", disse um dos revoltosos na série documental A Guerra, realizada pelo jornalista Joaquim Furtado para a RTP.A partir de um documento constante do arquivo de Salazar, e de diversas outras fontes, o casal Mateus descreve como características do levantamento a sua "rapidez fulminante", a "violência e ferocidade de processos", os "barbarismos cometidos contra brancos, mestiços e alguns pretos", o "fanatismo dos atacantes convencidos da sua invulnerabilidade", o "pânico das populações brancas, acrescido ao constatarem que, entre os que colaboravam nesses ataques, havia criados e cipaios".

O carácter tribal

Para Dalila e Álvaro Mateus, os contornos de violência do 15 de Março terão sido o reflexo de um conjunto de factores: "Ocarácter tribal da UPA, as contradições no seu seio, a impreparação dos seus quadros, as debilidades orgânicas, a falta de disciplina, as dificuldades em apaziguar ódios recalcados e em suster ímpetos primitivos."

O "carácter tribal" da revolta desencadeada pela UPA, "um movimento com profundas raízes" nos bacongos, manifesta-se, segundo os autores do mais recente estudo sobre as revoltas de há 50 anos em Angola, no número de mortos africanos, "uns quatro a cinco mil", designadamente ovimbundos e quimbundos. "Os factos demonstram que se procura a independência para os bacongos, porventura com o propósito de reconstituir o reino de S. Salvador", disseram ao P2.

"Foi um movimento completamente desvairado, racista, com todo aquele ingrediente de raiva de ódio mal dirigido", afirma Adelino Torres, professor jubilado do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), à época um jovem de 20 anos residente em Luanda, a preparar-se para estudar Direito em Lisboa. A consciência anticolonial que já então o animava não o impede de considerar que "foi uma barbaridade imperdoável". " Por muitas razões que os africanos tivessem contra o colonialismo, e tinham." Mais tarde, chegou a conhecer na Argélia representantes da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), designação depois adoptada pela UPA. "Constatei que não tinham nada na cabeça. Fiquei com uma impressão deplorável dessa gente", afirma.

Angola estava em ebulição, como fora prenunciado pelos ataques de 4 de Fevereiro em Luanda, e, antes disso, pela revolta contra os abusos laborais no cultivo do algodão na Baixa de Cassange. "Nos círculos do Governo central, na alta administração, toma-se então consciência de que em Angola há uma situação de guerra", reconheceu Franco Nogueira. Para o historiador Filipe Ribeiro de Meneses, tratou-se de uma tentativa de "extirpar a presença portuguesa do Norte de Angola". O "maior fracasso de Salazar ao longo das quatro décadas no poder terá sido a sua incapacidade de proteger a população branca e os seus trabalhadores no Norte de Angola em 1961", escreveu na sua biografia sobre o chefe do Estado Novo, publicada no ano passado pela D. Quixote. O efectivo militar à data do levantamento seria de 7800 homens para todo o território angolano.

Os sinais de que alguma coisa estaria para acontecer não faltavam. Não era só o ambiente internacional favorável à descolonização nem a vaga de 17 independências que varrera África no ano anterior. Os próprios colonos, pelo menos parte deles, não estariam alheios ao clima de pré-insurreição. Mas Salazar desvalorizaria informações obtidas por via diplomática norte-americana sobre o risco de incidentes, bem como relatórios da PIDE que davam conta da iminência de ataques.

"Fomos apanhados de surpresa, mas havia indícios de que queriam fazer alguma coisa. Sabíamos que mandavam fulanos que passavam pelos povos a fazer doutrinação e a dizer: "É preciso correr com os brancos"", conta José Rocha Dinis, que recorda uma conversa, em Novembro de 1960, na fazenda de Nova Caipemba, com um pequeno fazendeiro negro, antigo cabo do Exército: "Está-se a organizar uma matança. Prepare-se, avise as autoridades, mas não diga que fui eu que disse". Foi o que Rocha Dinis fez: alertou o chefe do posto administrativo, que não lhe terá dado ouvidos. O antigo cabo seria um dos mortos de 1961.Sementes de revolta

As sementes da revolta vinham a ser lançadas há algum tempo. Os autores de Angola 61 lembram declarações de Holden Roberto, líder da UPA, segundo o qual em 1959, aquando de manifestações pela independência do ainda Congo belga, dois mil a três mil angolanos foram expulsos da colónia e entregues às autoridades portuguesas. Esses repatriados, afirmam, foram enviados para as fazendas, "onde desenvolveram uma actividade política e propagandística". Por altura do levantamento no Norte, "terão entrado em Angola mais umas centenas de elementos da UPA", disseram ao P2. A organização adoptou também uma "política de recrutamento forçado", e o "comando dos revoltosos foi, em regra, das autoridades tradicionais".

O historiador angolano Carlos Pacheco tem menos certezas. Está convicto de que "as coisas fugiram ao controlo da UPA em Leopoldville" e de que "não foi só" a organização a protagonizar os ataques. Chegou a confrontar Holden Roberto com essa tese. "Sempre senti um grande constrangimento da parte dele", afirma. O autor do livro Angola - Um gigante com pés de barro acredita que a Abako, Aliança dos Bacongos, "esteve no terreno" e refere um projecto do seu líder, Joseph Kasavubu, primeiro Presidente da actual República Democrática do Congo, de "tomar conta do Baixo Congo".

Se as autoridades portuguesas admitiam uma revolta, não esperariam, contudo, a dimensão nem os contornos que assumiu. "O que perturbou militares, polícias e autoridades administrativas não foi a rebelião em si, mas a sua intensidade, rapidez e selvajaria", consideram Dalila e Álvaro Mateus. "Os governantes de então não quiseram tirar a lição dos acontecimentos, pois pensavam que tal situação não era possível, dada a excelência do seu colonialismo", afirmam. Rocha Dinis parece dar-lhes razão: "Tínhamos a ilusão de que não ia acontecer nada, porque nós tratávamo-los melhor do que os belgas. O Congo belga olhava para o preto como inferior."

Face à brutalidade do levantamento, cujas imagens correm mundo, Holden Roberto, em Nova Iorque - onde, no Conselho de Segurança, os Estados Unidos votam, nesse mesmo dia, pela primeira vez, contra a política colonial portuguesa - hesita na reivindicação dos ataques. "Vi imagens que não me agradaram". "Fomos ultrapassados", dirá na série A Guerra. Mas acaba por assumir a autoria, aparentemente por receio de que o rival MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola, o partido nopoder desde a independência) o fizesse, como acontecera com o 4 de Fevereiro em Luanda.

Os ataques e o medo prolongam-se muito para além dos primeiros dias. Os fazendeiros isolados procuram refúgio em núcleos populacionais maiores. "Sempre que possível, normalmente em pequenas vilas e lugarejos, os colonos e as forças de segurança locais criavam milícias para se defenderem enquanto esperavam pela chegada da polícia e das tropas regulares", segundo Ribeiro de Meneses. Mas "passaram-se semanas sem mudanças significativas no terreno e com as autoridades a temerem revoltas violentas noutras regiões de Angola - fosse em Cabinda, fosse no Sul".

As estradas e pontes cortadas dificultam a progressão das tropas portuguesas. E mesmo quando a evacuação se tornou possível", muitos colonos ficaram em "ilhotas de teimosia", como, segundo Meneses, lhes chamou Jorge Jardim, empresário influente junto de Salazar. "Mas para além dessas ilhotas, havia áreas muito mais vastas que se encontravam agora fora do controlo português", escreveu o historiador. A fazenda do sogro, a 14 quilómetros do Songo e que José Rocha Dinis administrava, é evacuada já no final de Abril e será assaltada a 2 de Maio. Dois dias depois, é a própria vila a ser atacada, numa acção que terá provocado a morte de 220 atacantes. Fazendeiro e proprietário voltarão em Julho para as colheitas. Noutros lugares a insegurança será mais longa. Ao longo de meses há notícias de ataques e confrontos com os rebeldes, que vão perdendo fôlego.

"A política de recrutamento forçado da UPA só poderia resultar no curto prazo e se a vitória fosse rápida. A médio prazo e depois dos primeiros reveses, no Verão de 1961, os rebeldes ficaram sem dirigentes, sem ordens, sem ajuda, o que levou a revolta a transformar-se numa anarquia. E os combatentes recrutados à força começaram a fugir e a render-se", disseram ao P2 Dalila e Álvaro Mateus.

Em Outubro, com a recuperação de Caiongo, distrito de Uíge, as autoridades coloniais retomam oficialmente o controlo da situação, ainda que, segundo os dois investigadores, o 15 de Março se tenha "prolongado por quatro anos", até ao momento em que, de acordo com um relatório do cônsul belga ao seu Governo, "o Norte fica sob controlo total das tropas portuguesas, embora os guerrilheiros da UPA permaneçam no terreno". É também em Outubro que grupos de africanos revoltosos que se tinham refugiado nas matas começam a entregar-se às autoridades coloniais. A guerra continuará,no modo de guerrilha.

O medo dos negros

Logo após os primeiros ataques, começam a afluir a Luanda refugiados, muitos dos quais apenas fazem da cidade ponto de trânsito para a Metrópole, a vulgar designação de Portugal continental. Adelino Torres lembra-se de colonos a chegarem à cidade, "sem nada, aterrorizados". Lembra-se também do clima de medo. "Toda a gente correu para as casas de armas a comprar pistolas, com receio de apanhar uma catanada."

Por esse tempo, havia quem visse em cada negro um terrorista. "Bastava alguém ter uma epiderme um pouco mais escura", afirma Carlos Pacheco, à época com 16 anos, que recorda uma situação vivida em sua casa, na capital de Angola: "A minha mãe recomendava ao nosso empregado, que era negro: "Não saias de casa." Arriscava-se, ao transpor os muros da casa, a ser morto." Foi assim durante meses. "Se já havia violência provocada pelo processo colonizador, a violência a partir daí foi ainda maior."

Franco Nogueira também se referiu ao alargamento do fosso racial: "Os brancos vêem em cada negro um possível terrorista, os negros vêem em cada branco um homem que se quer vingar e que agora mata sem hesitar. Deste modo, e além das atrocidades dos assaltantes, assumem gravidade o ataque preventivo e a retaliação indiscriminada de brancos sobre negros e destes sobre aqueles. Homem a homem, nas ruas, nos empregos, em toda a parte, espiam-se com rancor, e a um gesto equívoco é abatido o suposto adversário."

O "terror negro" dá lugar ao "terror branco". Dalila e Álvaro Mateus referem os "massacres e matanças indiscriminadas" que se seguiram ao levantamento da UPA, atestados por ofícios e relatórios de autoridades administrativas e militares. Há referências a "troféus de guerra", designadamente "frascos de álcool com dedos, orelhas e até cabeças de negros".

O "horror dos massacres criou o pânico" entre os brancos de Angola. E em Portugal as notícias da "barbárie e do morticínio" "abalaram as consciências e reforçaram o regime, apostado na guerra como solução para o problema colonial", consideram os autores de Angola 61. O rasto de sangue e o extremar de posições tornava mais difícil um futuro diferente em Angola. E nas outras colónias portuguesas em África. 

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Câmara Clara - RTP - 50 anos depois do Início da Guerra Colonial

CONVIDADOS: ADRIANO MOREIRA E JOAQUIM FURTADO

Adriano Moreira e Joaquim Furtado são os convidados do CC, 50 anos depois do início da Guerra Colonial. Um protagonista desta História (Adriano Moreira foi nomeado ministro do Ultramar em Abril de 1961) e um dos seus maiores narradores (a série multipremiada A Guerra já conta 24 episódios emitidos). Mas não só. Vamos também rever Holden Roberto (o líder da UPA, responsável pelos massacres de colonos, em 61, no Norte de Angola), vamos escutar  Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes; e Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus. Duas duplas de autores de dois dos livros mais relevantes publicados nos últimos meses sobre estas matérias, Das várias soluções preconizadas à época para a "questão ultramarina", a casos como o do General Deslandes, afastado do Governo de Angola no mandato de Adriano Moreira, passando, claro, pela "estranha inação de Salazar". Uma conversa em que Adriano Moreira diz coisas que nunca disse sobre este período da nossa História.

Amanhã, 27 de Fevereiro, 2011 na RTP 2, pelas 22h30

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Conferência | Porque rugem as ondas do mar: Desvio do Santa Maria. Ataque à prisão de S. Paulo. Descontentamento militar. Lutas civis.

com Fernando Rosas, Historiador

19 de Fevereiro de 2011, 15.00

   
Picoas Plaza, R.Tomás Ribeiro, 65, CES-Lisboa

Enquadramento
Ciclo 1961: o ano de todos os perigos

O ano de 1961 foi, para o regime salazarista, o ano de todos os perigos, vindo a revelar-se como o annus horribilis do ditador. Em distintos contextos, múltiplos acontecimentos marcariam esse ano, prenúncio do final do regime colonial-fascista português. Porque uma das linhas de orientação temática do CES aposta no aprofundar do conhecimento sobre o espaço de expressão portuguesa – e sobre as suas ligações históricas – este conjunto de sessões procura reflectir sobre um espaço unido por várias histórias e lutas.
Em 2011 passam 50 anos sobre esse ano de todos os perigos. Boa ocasião para recordar factos muitas vezes esquecidos, ouvindo os seus protagonistas, enquadrando-os na história comum que une Portugal e os países em que se transformaram – ou se integraram – as suas possessões coloniais.
Logo no início de Janeiro de 1961 tem lugar em Angola um levantamento de trabalhadores da Cotonang, protestando contra as condições de trabalho impostas pela companhia algodoeira. Os protestos são rapidamente reprimidos pelo exército português, mas anunciam o início da luta armada de libertação de Angola, marcada pelo ataque à cadeia de S. Paulo, em Luanda, a 4 de Fevereiro e pelo levantamento armado – que Mário Pinto de Andrade classificava como “jacquerie” – conduzido pela UPA em 15 de Março.

Entretanto, a 22 de Janeiro, elementos do Directório Revolucionário Ibérico de Libertação – congregando militantes da União de Combatentes Espanhóis e do Movimento Nacional Independente, português – apoderam-se do paquete Santa Maria, da Companhia Nacional de Navegação, que rebaptizam de Santa Liberdade, conseguindo uma cobertura noticiosa internacional e abalando profundamente o regime de Salazar.
Em Abril, a crise vem, não da oposição, mas do interior do regime, através da tentativa de golpe liderada pelo Ministro da Defesa, Júlio Botelho Moniz.
Em Junho, cerca de cem estudantes oriundos das colónias portuguesas em África que se encontram em Portugal abandonam clandestinamente o país, muitos deles para se juntarem aos movimentos de libertação.

A abolição do Estatuto do Indigenato, associado a outras reformas, em Setembro, chega demasiado tarde para travar a acção dos movimentos de libertação das colónias, entretanto reunidos na Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, CONCP.
A 10 de Novembro, Hermínio da Palma Inácio comanda o desvio do Super-Constellation da TAP Mouzinho de Albuquerque, a fim de lançar sobre Lisboa milhares de panfletos apelando à revolta contra a ditadura.

A 18 de Dezembro, tropas da União Indiana ocupam os territórios de Goa, Damão e Diu. Salazar ordena que as tropas portuguesas lutem até à última gota de sangue, mas o governador, general Vassalo e Silva, recusa-se a obedecer à ordem do Presidente do Conselho e opta pela rendição.

E, na noite de fim de ano, uma tentativa frustrada de assalto ao quartel de Infantaria 3, em Beja, leva à morte do então sub-secretário de Estado do Exército, tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca.
 
 
Programa
Conferência: Fernando Rosas, Historiador.
Projecção do Filme: Santa Liberdade, de Margarita Ledo (2004)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"Flash-back" de Manuel Bastos

«De repente, do nada: saudades da guerra.
Porco e malcheiroso, de mãos sebentas, de G3 nas unhas, fuçando a mata virgem, cheio de fome e de sede, com raiva não sei de quê.
Mais vinte e tal tipos como eu, em fila por entre o capim, mal falando uns com os outros, sabendo que cada passo dado nos aproximava da morte.
Porque tenho saudades disto às vezes? Porque passo dias e dias a escrever, tentando pôr nas palavras que me visitam a recusa de qualquer visão romântica da guerra e de repente a memória me deita tudo a perder?
Os helicópteros a largarem soldados dando a impressão que se sacudiam e que eles caíam de ambos os lados para o chão. E depois, vultos a correrem para a orla da clareira, encurvados, numa coreografia rude de hienas em matilha. Os helicópteros a ganharem altura, um após outro, como insetos pré-históricos, e alguns minutos de seguida, o silêncio feito das batidas dos nossos corações.(...)»


Para continuar a ler aqui:
http://cacimbo.blogspot.com/2011/02/flash-back.html

Mais um extraordinário texto do autor Manuel Bastos.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

"A Emboscada" e a Guerra Colonial



Grande Reportagem SIC
A Emboscada

«A GUERRA COLONIAL COMEÇOU HÁ 50 ANOS.

NAS 3 FRENTES DE COMBATE MORRERAM MAIS DE 8 MIL HOMENS
MAS MUITOS MAIS FICARAM COM MARCAS FÍSICAS E PSICOLÓGICAS.

A GRANDE REPORTAGEM “A EMBOSCADA” CONTA-LHE A HISTÓRIA DE
UM ATAQUE A UMA PATRULHA PORTUGUESA NA GUINÉ.
IMAGENS INÉDITAS… A GUERRA COLONIAL COMO NUNCA A VIU.»

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Início da Guerra Colonial

«Início da Guerra Colonial – Alguns detalhes


4 de Fevereiro de 1961 é considerado o dia um da Guerra Colonial: há exactamente 50 anos foram atacados, em Luanda, a Casa de Reclusão, o quartel da PSP e a Emissora Oficial de Angola.

Pode parecer hoje estranho, mas só mais de dois meses depois, em 8 de Abril, é que Salazar se referiu em público pela primeira vez aos acontecimentos.

A partir daí, tudo se precipitou: cinco dias depois falhou um golpe de Estado dirigido por Botelho Moniz, ministro da Defesa, Salazar assumiu a respectiva pasta e entregou a do Ultramar a Adriano Moreira (a memória é uma coisa tramada…).

No dia seguinte, 14 de Abril, no acto de posse dos novos membros do governo, foi ouvida a célebre declaração de Salazar, que ficaria para a História: «A explicação é Angola, andar rapidamente e em força é o objectivo que vai por à prova a nossa capacidade de decisão»

Depois, foi o que se sabe…



Sobre a Guerra Colonial, visite-se este importante site

Fonte: http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2011/02/inicio-da-guerra-colonial-alguns.html

Católicos e Guerra Colonial

Católicos e Guerra Colonial

No último número da revista Ecclesia, três artigos um Dossier Guerra Colonial.

Um grito contra a guerra
Jorge Wemans, preso em Caxias na sequência do caso da Capela do Rato

Um capelão em Angola
Agostinho Brígido, missionário espiritano e capitão do Exército

Paulo VI: Rezar por todos em tempo de guerra
João Miguel Almeida, historiador

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ciclo de Debates sobre a Guerra Colonial (Porto)



No dia em que passam exactamente 50 anos (4 de Fevereiro de 1961) dos primeiros ataques a uma prisão e a uma esquadra da polícia, em Luanda, por forças do MPLA – desencadeando-se assim, a "Guerra Colonial" – a AJA norte inicia um ciclo de debates e análises sobre factos e uma época que marcaram a sociedade portuguesa.


Associação José Afonso - núcleo do norte
rua do bonjardim 635 1º tras.
4000-028 porto
t. 91 771 19 64
http://vejambem.blogspot.com/
ajanorte@gmail.com

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Artigo: A guerra colonial causou mais danos físicos do que psicológicos

Ao fim de 37 anos, depois de um milhão de soldados recrutados, 10 mil mortos e 30 mil feridos, Portugal descobre agora que os ferimentos físicos e não stress crónico são o que mais aflige os ex-combatentes na Guiné-Bissau, Angola e Moçambique.

É o fim de um tabu”, diz a Lurdes Ferreira o coronel na reserva Andrade da Silva, coordenador de um estudo inédito a que a Pública teve acesso e cujos resultados o deixaram espantado. “Nada haveria de surpreendente se o grosso das queixas configurasse stress pós-traumático tardio. Mas, em vez disso, mais de metade referem-se a ferimentos simples e múltiplos.” O coordenador acrescenta que “o dado mais inesperado é andarmos ainda a tratar de queixas do foro biológico” ao fim destes anos.

Uma equipa envolvendo o Ministério da Defesa, o Instituto Superior de Tecnologias Avançadas (Istec), a Academia Militar, a Escola do Serviço de Saúde Militar, o Centro de Psicologia Aplicada do Exército e o Arquivo Geral do Exército, com elementos das áreas da psicologia, sociologia, direito, engenharia e economia, dedicou-se durante dois anos a este tema e encontrou uma realidade diferente da imaginada. Desta vez, o grupo encontrou, num conjunto de 3020 queixas de ex-combatentes do exército, todas com decisão superior, casos de doença de stress pós-traumático crónico que não passam os nove por cento do total, enquanto mais de metade, 52 por cento, reportaram ferimentos simples não tratados (36 por cento) ou múltiplos (16 por cento).

O artigo completo na revista Pública à venda com o jornal PÚBLICO de domingo, dia 30 de Janeiro, ou na edição de assinantes online. 

http://www.publico.pt/Sociedade/a-guerra-colonial-causou-mais-danos-fisicos-do-que-psicologicos_1477438

Aguardamos mais dados concretos sobre o estudo.  Terão sido os inquiridos suficientes para chegarem a tal conclusão? Mais um tema a ser debatido...